Luc Ferry, defensor do Humanismo Secular, filosofia baseada na razão, na ética e na justiça.
O objetivo de Ferry foi responder à questão sobre como se vive uma vida boa ou uma vida com êxito. Para isto, ele contou duas histórias, uma antiga e uma moderna: a de Ulisses, herói Grego, que consta em Odisseia e a invenção do casamento por amor no ocidente.
Num dos momentos de Odisseia relatados por Ferry, o deus Poseidon tenta fazer com que o herói Ulisses esqueça o sentido de sua vida, colocando-lhe obstáculos de esquecimento em seu caminho de volta para a casa. Um deles é a deusa Calipso, que oferece a Ulisses a imortalidade e a juventude eterna se ele ficasse com ela. Ulisses recusa a oferta e aceita a morte, pois sabe que o objetivo da vida não é a imortalidade. Dessa forma, ele segue seu caminho em busca de viver a sua boa vida mortal.
A partir da história de Ulisses, Ferry explica que existem três elementos em toda a filosofia que definem a boa vida para os mortais:
1- O ser sábio: Primeiramente, é aquele que aceita a morte. Que vence seus medos e aceita viver a boa vida. Ferry pontua os três medos principais: o medo social, que se dá pela timidez, as angústias que são expressadas pelas fobias e o medo da morte.
2- Viver no presente: Os gregos percebiam dois empecilhos para se alcançar a boa vida: o passado e o futuro, que não nos deixam viver o presente. Estamos presos ao passado quando, por exemplo, tentamos reescrever histórias que não voltam mais. Quando escapamos do passado, na maior parte do tempo estamos conectados com o futuro, que nos traz a ilusão de que as coisas sempre vão melhorar depois. Precisamos habitar o presente, que é a única dimensão real do tempo. Durante vinte anos, Ulisses, estava sempre lamentando o passado que deixou e imaginando estar no futuro.
3- Encontrar um lugar no cosmos: Os gregos acreditavam que o universo inteiro é como um organismo vivo, que possui uma ordem harmônica e que o cosmos é eterno, não morre. Ferry diz que todos temos o nosso lugar no cosmos e quando o encontramos, nos tornamos nós mesmos e então, a morte passa a ser caracterizar apenas como uma passagem.
Com base nestes três elementos de ação, Ferry acredita que possamos garantir o êxito em nossa existência.
Na segunda história, sobre o casamento, o filósofo expõe as referências mundanas atuais da humanidade. Segundo ele, na Idade Média o ato de casar não tinha nenhuma relação com sentimento. Era uma questão prática e de interesses econômicos: casava-se para transmitir o patrimônio e dar continuidade a linhagem.
O trabalho assalariado provindo do capitalismo, traz consigo a possibilidade de independência por parte, principalmente, das mulheres e junto com isto, a realidade de poder exercer o poder de escolha sobre o(a) parceiro(a) com quem se pretende formar uma família.
Desta mudança de comportamento surgem três consequências:
1 – A invenção do divórcio:A paixão amorosa termina, é efêmera e precisa de cuidados para que se transforme em algo que perdure. Viver o amor é mais difícil do que viver a tradição, a convenção de um casamento arranjado, mas é uma conquista do ser humano.
2 – A noção de amor pelos filhos como nunca existiu: Na idade média, não se amavam os filhos. O interesse maior estava no primeiro e no segundo filho, para que se mantivesse o nome da família. Uma em cada duas crianças chegavam aos 10 anos. Hoje, amamos apaixonadamente as crianças. Isto muda a nossa vida no plano coletivo e político.
3 – A desconstrução do Sagrado: Há séculos, as três grandes causas de morte, de sacrifícios coletivos da humanidade, vem sendo Deus e as religiões, a pátria e as revoluções. Ferry explica que atualmente, entre os jovens da Europa, ninguém está pronto para morrer por ideias. Estas figuras do Sagrado caíram por terra e uma nova figura veio à tona: o próprio ser humano. São as pessoas que amamos que passam a nos importar.
Toda esta mudança de percepção comportamental e sócio-cultural faz com que as grandes questões políticas da atualidade passem a vigorar sob o guarda-chuvas do olhar para as gerações futuras: “Que mundo vamos deixar para as nossas crianças?” Logo, o pensamento passa a ser coletivo e não apenas particular.
Luc Ferry encerra sua brilhante conferência com a seguinte metáfora:
“Se quiser ter uma ideia do que representam as figuras tradicionais do sagrado, pense no comandante de um barco que naufraga. O comandante afundará com o barco, pois este é seu código de honra. Hoje, ninguém mais está disposto a morrer pelo casco do navio. Mas, estamos dispostos a arriscar a vida por pessoas. Enquanto Ulisses procurava a reconciliação com o mundo, nós procuramos uma reconciliação com as pessoas, com o SER humano. Esta é a revolução do amor.”
Frente às sábias palavras de Luc Ferry, desejo que possamos buscar nesta revolução, o êxito compartilhado. Muito amor para todos e claro, uma vida boa.
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