Destituído o bispo que combatia arduamente a Teologia da
Libertação e, por isso, incomodava seus pares. A diocese onde abundavam as
vocações e aflorava a piedade cai diante do establishment modernista
latino-americano, capitaneado pelo próprio bispo de Roma — o que não deveria
ser surpresa para ninguém, pois, pelo histórico de desavenças, a Visitação
Apostólica desde sempre pareceu um jogo de cartas marcadas.
Pontificado politicamente correto até nos comunicados. Para
a Sala de Imprensa, o Papa realizou pura e simplesmente uma sucessão. Os
maníacos da colegialidade não gostam (isso contraria seus princípios
dialogantes, mas, evidentemente, contraditórios) de falar o que realmente
aconteceu: Dom Livieres foi defenestrado, destituído sumariamente, em um ato digno
de ser imputado (ah, como eles gostam de fazer isso!) àquelas autoridades,
digamos… pré-conciliares. O fato é que, para defender seus interesses, os
progressistas não se importam com a coerência e nem em voltar no tempo. O único
ato intolerável na Igreja Pós-Conciliar é buscar ser verdadeiramente Católico.
Nota da Sala de Imprensa da Santa Sé – Sobre a sucessão do
bispo de Ciudad del Este (Paraguai), Sua Excelência Reverendíssima Rolegio
Ricardo Livieres PLano
Tradução: Fratres in Unum.com – Depois de um cuidadoso exame
das conclusões das visitas apostólicas realizadas pela Congregação para os
Bispos e pela Congregação para o Clero ao bispo, diocese e seminários de Ciudad
del Este, o Santo Padre procedeu à sucessão de S.E. Rogelio Ricardo Livieres
Plano, nomeando Administrador Apostólico da mesma sede, agora vacante, S.E.
Mons. Ricardo Jorge Valenzuela Ríos, Bispo de Villarica do Espírito Santo.
A árdua decisão da Santa Sé, determinada por sérias razões pastorais,
obedece ao bem maior da unidade da Igreja de Ciudad del Este e da comunhão
episcopal no Paraguai.
O Santo Padre, no exercício de seu ministério de “fundamento
perpétuo e visível da unidade tanto dos bispos como da multidão dos fiéis” (LG
23) pede ao clero e a todo o povo de Deus de Ciudad del Este que acolha a
decisão da Santa Sé com espírito de obediência, docilidade e sem desavenças,
guiados pela fé.
Por outro lado, convida a toda a Igreja do Paraguai, guiada
por seus pastores, a um sério processo de reconciliação e superação de todo
sectarismo e discórdia, para não ferir o rosto da única Igreja “adquirida pelo
sangue de seu filho” e para que o “rebanho de Cristo” não se veja privado da
alegria do Evangelho (cf. Hch 20, 28).
Dom Livieres se negou a renunciar e não pôde falar com
Francisco.
Comunicado de Imprensa da Diocese de Ciudad del Este.
Tradução: Alexandre Semedo – Fratres in Unum.com: Mons.
Rogelio Livieres Plano manteve duas reuniões realizadas esta semana em Roma, na
Congregação para os Bispos, onde se lhe foi pedido fortemente que renunciasse a
seu cargo pela falta de unidade na comunhão com os outros Bispos do Paraguai.
Apesar de ter pedido para ver os resultados da visita
apostólica escrita, eles nunca lhe foram mostrados. Nem foi concedido o seu
pedido para ser ouvido pelo Papa e para falar com ele no intuito de se defender
e de esclarecer eventuais dúvidas.
Por respeito à sua consciência para os deveres que lhe tocam
como pastor de uma diocese que, graças a Deus, floresceu e multiplicou seus
frutos nos últimos anos, recusou a aceitar tal solicitação, que acredita
infundada, e que é o resultado de um processo repentino e indefinido. No
entanto, pela obediência à autoridade do Papa, aceitou com serenidade e
tranquilidade a decisão a ser afastado do cargo.
A pedido do bispo que se retira, a diocese de Ciudad del
Este aguarda com alegria e esperança seu novo Pastor, que a guiará ao Reino dos
Céus, rezando desde já por quem deva assumir esta responsabilidade. Maria,
Rainha da Paz e São Brás, padroeiro da Diocese, protejam e guiem a todos nestas
circunstâncias difíceis. Quando o Bispo for devidamente notificado por escrito
as decisões tomadas terão efeitos legais.
“Papa deverá prestar contas a Deus, não a mim. O mérito da
causa nada mais foi do que uma oposição e perseguição ideológica. Eu e o povo
fomos ignorados”.
Agradecimentos ao caro Alexandre Semedo por, novamente,
fornecer sua tradução ao Fratres in Unum.com – destaques nossos.
Cardenal Marc Ouellet
Prefeito da Congregação para os Bispos
Palazzo della Congregazioni,
Piazza Pio XII, 10,
00193 Roma, Italia
25 de setembro de 2014
Eminência:
Obrigado pelo carinho com que me recebeu na segunda-feira,
dia 22, e na terça-feira, dia 23 deste mês, na Congregação que o senhor
preside. Da mesma forma, a comunicação por telefone, que me fez há pouco, da
decisão do Papa de declarar a Diocese de Ciudad del Este vacante e de nomear
Mons. Ricardo Valenzuela como Administrador Apostólico.
Tenho entendido que o Núncio, quase simultaneamente com o
anúncio de que Sua Eminência acaba de me dar, fez uma conferência para a
imprensa no Paraguai e agora vai à Diocese para assumir o controle imediato
dela. O anúncio público pelo Núncio antes de que eu mesmo fosse notificado, por
escrito, do decreto é uma irregularidade a mais neste processo anômalo. A
intervenção fulminante na Diocese talvez se deva ao medo de que a maioria das
pessoas fiéis reajam negativamente à decisão tomada, já que manifestaram
abertamente seu apoio a mim e à minha gestão durante Visita Apostólica. A este
respeito, lembre-se das palavras de despedida do Cardeal Santos y Abril:
“Espero que recebam as decisões de Roma, com a mesma abertura e docilidade com
que receberam a mim.” Isto indicava que o curso da ação foi decidido antes dos
relatórios finais e do exame do Santo Padre? Em qualquer caso, não há que se
temer rebeldia alguma. Os fiéis foram formados na disciplina da Igreja e sabem
como obedecer às autoridades legítimas.
As conversas que tivemos, aparentemente (porque eu não vi os
documentos oficiais), dão como justificativas para uma tão grave decisão uma
tensão na comunhão eclesial entre os bispos do Paraguai, a minha pessoa e a
Diocese: “Nós não estamos em comunhão”, o Núncio havia declarado em sua
conferência.
Da minha parte, penso ter mostrado que ataques e manobras
destituintes de que fui objeto se iniciaram desde a minha nomeação como bispo,
antes mesmo que pudesse pôr o pé na Diocese – há correspondência daquela época
entre os bispos do Paraguai com o Departamento de que Sua Eminência preside
como prova irrefutável. O meu caso não foi o único em que uma Conferência
Episcopal se opôs sistematicamente a uma nomeação feita pelo Papa contra a sua
opinião. Eu tive a graça de que, no meu caso, os Papas São João Paulo II e
Bento XVI apoiaram-me a seguir adiante. Eu entendo agora que o Papa Francisco
decidiu retirar esse apoio.
Eu só quero enfatizar que em nenhum momento recebi um
relatório escrito sobre a Visita Apostólica e, portanto, eu não pude responder
corretamente a ele. Apesar de muita conversa sobre diálogo, compaixão,
abertura, descentralização e respeito pela autoridade das Igrejas locais, eu
sequer tive a chance de falar com o Papa Francisco, mesmo para esclarecer
quaisquer dúvidas ou preocupações. Por isso, não pude receber qualquer correção
paterna – ou fraterna, como o senhor preferir. Sem recorrer a queixas inúteis,
tal proceder sem formalidades, de forma indefinida e súbita, não me parece
muito justo, nem permite uma defesa legítima, ou a correção apropriada de
possíveis erros. Tudo o que recebi foram pressões orais para me demitir.
Que meus adversários e a mídia local recentemente tenham
relatado nos meios de comunicação, não o que aconteceu, mas o que estava
prestes a acontecer, mesmo nos menores detalhes, certamente é outro indicador
de que alguns altos funcionários do Vaticano, o Núncio Apostólico e alguns
bispos do país estavam manobrando de forma orquestrada com vazamentos
irresponsáveis para orientar o curso de ação e da opinião pública.
Como filho obediente da Igreja, eu aceito, no entanto, esta
decisão, por mais que a considere infundada e arbitrária e pela qual o Papa vai
dar contas a Deus e não a mim. Além dos muitos erros humanos que tenha
cometido, e pelos quais desde já peço perdão a Deus e àqueles que sofreram por
isso, eu digo novamente para quem quiser ouvir que o mérito da causa nada mais
foi do que uma oposição e perseguição ideológica.
A verdadeira unidade da Igreja é a que é construída a partir
da Eucaristia e do respeito, da observância e da obediência à fé da Igreja,
ensinada normativamente pelo Magistério, articulada na disciplina da igreja e
vivida na liturgia. Agora, no entanto, visa-se impor uma unidade baseada não na
lei divina, mas em acordos humanos e na manutenção do status quo. E, no
Paraguai, baseada concretamente na má formação de um único Seminário Nacional –
deficiências que não foram identificadas por mim, mas com autoridade pela
Congregação para a Educação Católica, em uma carta aos bispos de 2008. Por
outro lado, sem criticar o que fazem os outros Bispos, embora haja uma
abundância de material para tanto, eu me foquei em estabelecer um seminário
diocesano de acordo com as regras da Igreja. Eu o fiz não só porque eu tenho o
dever e o direito de fazê-lo pelas as leis gerais da Igreja, mas com a
aprovação específica da Santa Sé, de forma inequívoca ratificado durante a
última visita ad limina de 2008.
Nosso seminário diocesano tem dado excelentes resultados,
reconhecidos por cartas elogiosas recentes da Santa Sé, em pelo menos três
ocasiões durante o pontificado anterior, pelos Bispos que nos visitaram e, em
última instância, pelos Visitadores Apostólicos. Todas as sugestões feitas pela
Santa Sé relativas a melhorias sobre a forma de conduzir o seminário foram
fielmente cumpridas.
O outro critério de unidade eclesiástica é a coexistência
acrítica entre nós com base na uniformidade de pensamento e ação, o que exclui
a dissidência em defesa da verdade e da legítima variedade de dons e carismas.
A esta uniformidade ideológica é imposta pelo eufemismo de “colegialidade”.
Aquele que sofre as conseqüências últimas daquilo que eu
descrevo é o povo fiel, uma vez que as Igrejas particulares permanecem em
estado de letargia, com grande êxodo para outras denominações, quase sem
vocações sacerdotais e religiosas, e com pouca esperança de um dinamismo real e
crescimento duradouro.
O verdadeiro problema da Igreja no Paraguai é a crise de fé
e de vida moral que a má formação do clero foi perpetuando, juntamente com a
negligência dos pastores. Lugo é apenas um sinal dos tempos desta problemática
redução da vida de fé às ideologias da moda e ao relaxamento cúmplice da vida e
da disciplina do clero. Como eu disse, não me foi dado conhecer o relatório do
Cardeal Santos y Abril sobre a Visita Apostólica. Mas se sua opinião for a de
que o problema da Igreja no Paraguai é um problema de sacristia, que se resolve
trocando o sacristão, estará trágica e profundamente equivocado.
A oposição a toda renovação e mudança na Igreja no Paraguai
conta não apenas com os bispos, mas também com o apoio de grupos políticos e
associações anti-católicas, e, ainda, com o apoio de alguns religiosos da
Conferência dos Religiosos do Paraguai –os que conhecem a crise de vida
religiosa em âmbito mundial não se surpreendem com isto. O porta-voz mentiroso
e pago para essas manobras repetidamente tem sido sempre um certo Javier
Miranda. Tudo isso foi feito com a intenção de mostrar uma “divisão” dentro da
Igreja diocesana. Embora a verdade demonstrada e comprovada seja a ampla
aceitação entre os leigos do trabalho que estávamos fazendo.
Assim como eu, antes de aceitar a minha nomeação como Bispo,
acreditava firmemente na obrigação de expressar o meu sentimento de incapaciade
ante tamanha responsabilidade, depois de ter aceitado este cargo com todo o
peso da autoridade divina e com os direitos e deveres que me assitem, sempre
mantive a grave responsabilidade moral de obedecer antes a Deus do que aos
homens. Por isto, eu me recusei a renunciar por iniciativa própria desejando
testemunhar até o fim a verdade e a liberdade espiritual que um pastor deve
ter. Tarefa que espero continuar em minha nova situação na Igreja.
A diocese de Ciudad del Este é um caso a considerar, que fez
crescer e multiplicar seus frutos em todos os aspectos da vida eclesial, para a
felicidade das pessoas fiéis e devotas, que procuram as fontes da fé e da vida
espiritual, e não ideologias politizadas e crenças diluídas, que se encaixam
nas opiniões dominantes. Essas pessoas aberta e publicamente manifestaram seu
apoio ao trabalho apostólico que vínhamos fazendo. Eu e o povo fomos ignorados.
Seu afetuosamente em Cristo,
+ Rogelio Livieres
Ex-bispo de Ciudad del Este (Paraguay)
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